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terça-feira, 10 de julho de 2012

Frases de para-choque perdem espaço nas estradas brasileiras


“Mulher chora na saída, caminhão na subida”. Frases como essa pintadas em para-choques de caminhão já foram símbolo de uma cultura popular própria dos motoristas. Hoje, as anedotas não são mais encontradas com tanta facilidade. “Era até romântico, mas agora é outro mundo. Infelizmente, vai ficar apenas na história”, lamenta o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abicam), Claudinei Pelegrini.
Com temas que vão desde religião e família até mulheres – muitas vezes, com comentários machistas -, as frases de para-choque costumam ser bem-humoradas. “É a forma encontrada pelos caminhoneiros de interagir com o mundo”, avalia a professora licenciada em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão (Uema) Antonia de Fátima Farias, que analisou algumas frases em pesquisas científicas.
A jornalista e mestre em Comunicação Tânia Olivatti, que também já escreveu sobre o tema, acredita que um dos fatores que determinou, nos últimos tempos, o desaparecimento dessa cultura foi a mudança no modelo de negócio. “Antigamente, eram mais caminhoneiros autônomos. Hoje em dia, um veículo é caro, então eles trabalham para empresas”, diz. Para ela, o caráter comercial (com propagandas da empresa estampadas nos caminhões) substituiu a tradição anterior.
Pelegrini também aponta a modernização como uma das contribuições para que essa prática saísse de moda. “Além dos equipamentos, são muitas pessoas novas dirigindo, que não entendem o significado, o romantismo disso”, opina. O presidente da Abicam conta que, entre os anos 1970 e 1980, muitas carrocerias eram pintadas à mão, o que possibilitava a personalização. Hoje, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) não tem nenhuma norma que proíba a prática, mas uma resolução define um padrão de pintura de para-choques, o que transferiu as frases que ainda resistem para o lameiro do caminhão. “Era um lugar de expressão que eles tinham”, avalia Tânia.
Blogs e livros guardam memória
Hoje, quem trata de imortalizar as anedotas são autores de livros e gerenciadores de blogs e sites. Um deles é Amir Mattos, que publicou o livro 500 frases de para-choques de caminhão pela Editora Leitura, reeditado de maneira independente sob o título Pára-Choques. O autor também aponta o medo de que as frases sejam uma maneira de identificar o caminhão para possíveis assaltos como uma das causas para seu fim.

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