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quarta-feira, 21 de março de 2012

Roubo de cargas cresce no Paraná e assusta empresas


Aldemir Pires, gerente da empresa Bitway Computadores, em Piraquara: roubo de equipamentos parou linha de produção por falta de peças
O roubo de cargas anda amedrontando transportadoras e motoristas no Paraná. Não há dados para comprovar o aumento ou para ma­­pear os casos no estado, mas a percepção geral dos trabalhadores do setor é de que, no ano passado, hou­­ve um crescimento significativo de episódios, especialmente na Região Me­­tro­­politana de Curitiba (RMC). En­­tidades representativas do setor pe­­dem dados mais precisos, uma de­­legacia especial para esse tipo de rou­­bo e a regulamentação da Lei 121/2006, conhecida como Ne­­gromonte e que visa coibir esse ti­­po de crime.
Apesar de não existirem dados ofi­­ciais de roubos de cargas no Pa­­raná, há números que mostram o ce­­nário nacional. Os zeros assustam: em 2010, quase R$ 1 bilhão foi perdido para ladrões de cargas em todo o Brasil, segundo levantamento da Associação Nacional do Trans­porte de Cargas e Logística. En­­­­tretanto, o prejuízo po­­de ser ainda maior devido a uma sub­­­notificação de casos. Ainda não foram divulgados os números de 2011.
A maioria dos crimes ocorre na região Sudeste, principalmente no estado de São Paulo. Do total, 81,3% dos roubos aconteceram nesta região, por onde circulam as mer­­cadorias mais visadas do Bra­­sil. No Sul, o prejuízo foi de R$ 107 milhões. O valor da carga roubada na região é proporcionalmente mais alto do que a média nacional, já que os três estados concentraram apenas 8,6% das ocorrências. Entidades representativas do setor apontam, ainda, que a concentração no Sudeste está diminuindo, e que os ladrões de carga estão vindo para o Paraná.
Aumento
Segundo o presidente da Fede­ração das Transportadoras de Car­gas do Paraná (Fetranspar), coronel Sérgio Malucelli,
esse crescimento recente assusta, principalmente, porque se trata de um fenômeno relativamente novo no Paraná. “Antes, tínhamos um dos índices mais baixos, mas os roubos cresceram muito nos últimos anos”, co­­menta. Segundo Malu­celli, a situação piorou nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2011.
Presidente do Sindicato das Em­­presas de Transportes de Cargas no Es­­tado do Paraná (Setcepar), Gil­­ber­­to Antônio Cantú também afirma que o número de reclamações vin­­das dos associados aumentou sig­­nificativamente no último ano. O local onde esse tipo de crime tem acon­­tecido com mais frequência é na RMC, especialmente ao longo do Contorno Leste, que vai da Zona Sul de Curitiba até Qua­­­­tro Barras, a nordeste da capital.
A falta de dados precisos dificul­­ta o mapeamento das ocorrências e, por consequência, o combate a esse crime. Segundo a Secretaria de Estado de Segurança do Paraná (Sesp-PR), o registro de roubo de carga varia de acordo com o boletim de ocorrência. Quando o caminhão é roubado junto, configura-se roubo de veículo. Se apenas a carga é levada, o crime é tipificado como roubo comum.
Alvos
Atualmente, os alvos favoritos dos ladrões são cargas com um valor intermediário, já que os produtos mais caros tendem a ser também mais vigiados. Segundo o presidente da corretora de seguros Con­voy, Heleno Gomes Farias, são mais visados cigarros, eletrônicos e medicamentos, produtos que são relativamente fáceis de serem re­­vendidos.
Entidades pedem delegacia exclusiva
Entidades do setor de transportes de cargas e corretoras de seguros es­­pe­­cializadas pedem a criação de uma delegacia exclusiva para in­­vestigar desvios de carga, como existe no Rio de Janeiro e em São Paulo. Para elas, o combate especializado poderia diminuir as ocorrências no Paraná.
Hoje, há uma Delegacia de Este­­lionato e Desvio de Cargas, ou seja, o roubo de cargas acaba “dividindo” as atenções com outros crimes. Se­gundo o delegado Cassiano Au­­fiero, já existem estudos para avaliar a viabilidade da proposta, mas ainda não se sabe se essa medida se­­ria, de fato, eficiente no combate ao crime.
De acordo com o presidente da Fe­­deração das Transportadoras de Cargas do Paraná (Fetranspar), Sérgio Malucelli, porém, a medida ajudou bastante no combate a essa modalidade de crime em São Paulo, apesar de o estado ainda con­­centrar a maioria das ocorrências no Brasil.
Aufiero afirma que a separação dessas duas modalidades – estelionato e desvio de carga – está sen­­do discutida. Entretanto, ele ar­­­gumenta que o combate de forma con­­junta também é importante. O roubo de cargas é um crime sofisticado: para ser bem sucedido, o ladrão precisa de um receptor, que deve também cometer fraudes fiscais para conseguir repassar essa carga para o consumidor. Nessa ca­­deia, estelionatários e ladrões estariam intimamente ligados.
Legislação
Outra cobrança feita pelo setor é a regulamentação da Lei Negro­monte, aprovada em 2006. Pro­­posta pelo então deputado federal Má­rio Negromonte (PP-BA), a lei pre­­vê a criação do Sistema Na­­cional de Prevenção, Fiscalização e Re­­pressão ao Furto e Roubo de Veí­­culos e Cargas. Apesar de aprovada, ela nunca foi regulamentada e, portanto, não funciona na prática.
A importância da integração da fis­­calização proposta pela lei ocorre porque o roubo de cargas envolve outros delitos e as gangues não respeitam as delimitações territoriais do Brasil. Um exemplo é que a carga roubada no Pa­­raná pode ser vendida em Santa Ca­­tarina, São Paulo, ou mesmo fora do país.
Crime afeta a cadeia produtiva
O desvio de cargas é um crime que afeta toda a cadeia produtiva. Transportadores têm de aumentar seus custos de operação para garantir segurança no transporte, instalando rastreamento, bancando seguro e, em alguns casos, até mesmo uma escolta armada. Segundo o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Paraná (Setcepar), em média, esse aumento do custo é de 8% do valor da carga. Dependendo do caso, pode chegar a até 20%, de acordo com Heleno Gomes Farias, presidente da corretora de seguros Convoy.
Já o comerciante sofre duplamente. Primeiro, corre o risco de planejar suas vendas e não ver suas mercadorias chegar. Um exemplo foi uma loja de aparelhos eletrônicos em Arapongas, que, em 2011, comprou uma carga de computadores e, antes de ela chegar, anunciou uma oferta para seus clientes. Entretanto, os computadores foram roubados no trajeto, frustrando os consumidores e atrapalhando as vendas. Outra consequência é que os vendedores perdem clientes para o comércio ilegal. As cargas roubadas são revendidas por um preço abaixo do mercado no comércio paralelo.
Após perder tudo, fábrica estuda fechar filial no estado
Segunda-feira, 30 de janeiro. Um caminhão da empresa de informática Bitway, de Piraquara, na região metropolitana, levando um carregamento com peças para computadores, é parado por assaltantes na Vila Hauer, em Curitiba. Rendidos, os funcionários da empresa argumentam que a carga não tem valor comercial. Ao constatar o “erro”, os assaltantes deixam o local. Seria apenas um susto, não fosse a terceira vez que uma carga da empresa é atacada em pouco mais de seis meses.
“A nossa fábrica está há 20 anos em Ilhéus (BA) e nós nunca tivemos um problema [de roubo de cargas]. Saindo da Bahia, mandamos cargas para Rondônia, Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e nunca tivemos problema”, conta o gerente da Bitway em Piraquara, Aldemir Nunes Pires.
A empresa decidiu instalar uma fábrica no Paraná há quatro anos, para facilitar o acesso a mercados no Sul do país. Entretanto, os roubos frequentes já fazem a diretoria da empresa baiana repensar o custo-benefício da unidade. A diretoria deve se reunir na próxima semana, em Piraquara, para decidir o que fazer com a filial.
O primeiro roubo foi em julho de 2011. Um caminhão com uma carga avaliada em R$ 600 mil saía da sede da empresa em direção à cidade de Arapongas, no interior do Paraná. A menos de 500 metros da empresa, na Rua Barão do Cerro Azul, assaltantes fecharam o motorista em uma lombada e levaram o caminhão até um “cemitério” de veículos na cidade vizinha Quatro Barras. Lá, descarregaram em dois caminhões diferentes – um deles acabou sendo interceptado pela polícia. O motorista foi mantido refém até o fim do transbordo e o caminhão deixado no local.
Mesmo com cuidados reforçados com a segurança da empresa, outro caminhão foi assaltado meses depois. No dia 26 de janeiro de 2012, outra carga, desta vez no valor de R$ 130 mil, foi interceptada na BR-277, próximo ao pedágio de São Luís do Purunã. Novamente, o motorista foi mantido refém até o descarregamento, no bairro Orleans, em Curitiba. No caminho, os criminosos contaram que seguiam o caminhão desde a sede da empresa.
Com a insegurança, a Bitway estuda deixar o Paraná e concentrar seus investimentos em seu estado natal. A linha de produção da fábrica está parada, até que se chegue a uma decisão. Isso significaria uma perda imediata de 50 empregos diretos em Piraquara.
Para o presidente da Federação das Transportadoras de Cargas do Paraná (Fetranspar), Sérgio Malucelli, isso não seria um fato isolado. “Se não investirmos pesado em segurança pública no estado, corremos o risco de perder indústrias. Quem é que vai querer se instalar [em um estado inseguro]?”

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