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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Diesel menos poluente ainda não foi bem distribuído no Brasil


Um combustível muito menos poluente do que os usados há décadas por caminhões e ônibus ainda não espalhou os seus benefícios pelo Brasil. É uma notícia ruim para a saúde das pessoas e das cidades.
Chegou atrasado: três anos depois do previsto. E muitos motoristas não conhecem. O S-50 é menos turvo e menos poluente. O teor de enxofre, que gera gases tóxicos durante a combustão, é só um décimo do apresentado pelo diesel S-500, ainda vendido nas regiões metropolitanas. O S-1800, encontrado em cidades do interior, tem 36 vezes mais enxofre.
O diesel mais limpo deveria estar no mercado desde 2009. Mas só frotas de ônibus e consumidores de Belém, Fortaleza e Recife tinham acesso a ele.
O atraso na entrada no mercado do diesel menos poluente levou o governo de São Paulo e o Ministério Público Federal a entrarem com uma ação na Justiça contra a Agência Nacional do Petróleo, a Petrobras e as montadoras. Só então um acordo foi fechado. Desde 1º de janeiro, em todo o Brasil, 4,2 mil postos são obrigados a vender o combustível.
São poucos. Em Porto Alegre, por exemplo, nenhum posto precisa vender o novo diesel. Felismino de Souza, dono de um posto, investiu R$ 50 mil em uma bomba, mas… “Não vendo nada. Não dá nem para a luz”, diz.
O caminhoneiro Rogério Miller explica: “Ele polui menos, só que é mais caro.”
Custa de 7% a 10% mais do que o diesel convencional. “Ele custa mais caro porque sai da refinaria mais caro do que o diesel comum”, afirma José Alberto Gouveia, presidente do Sindicato dos Postos de São Paulo.
Em São Paulo, o S-50 só é vendido em 4% dos postos.
“Seria o suficiente se houvesse caminhão para abastecer. O cliente não existe. Ainda. Então não tem a venda do produto”, acrescenta José Alberto Gouveia.
O novo combustível pode ser usado em qualquer veículo movido a diesel, mas foi feito especialmente para motores da chamada tecnologia Euro 5, que começaram a ser fabricados no Brasil este ano e que reduzem drasticamente a emissão de poluentes. Olhando o escapamento, nem se percebe fumaça preta.
Nos caminhões com este motor, que só podem rodar com o novo diesel e têm de usar um aditivo, a redução é de pelo menos 80% na emissão de partículas, que respondem por quase metade da poluição das grandes cidades. Nos motores antigos, a redução é menor: 10%.
Todo veículo a diesel fabricado no Brasil a partir de 2012 tem que ter a nova tecnologia. Como são até 12% mais caros, encalharam nas lojas.
Para não pagar mais pelos veículos, uma transportadora antecipou em 2011 a compra de 270 caminhões com a tecnologia antiga.
“Devemos ter economizado em torno de R$ 1,5 milhão”, calcula Luiz Carlos Lopes, diretor da transportadora.
Por enquanto, o prejuízo maior é para a saúde dos brasileiros.
“A emissão de diesel está muito associada à morte por infarto do miocárdio, por pneumonia e por câncer de pulmão. Essa foi a razão principal para que vários países fizessem essa opção por um diesel mais limpo, porque eles descobriram que eles gastavam muito mais dinheiro mantendo a situação como está do que investindo no sentido de promover uma qualidade do ar melhor”, explica o professor Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da USP.

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