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segunda-feira, 12 de março de 2012

Brasil precisa triplicar investimentos para melhorar logística


A greve dos motoristas de caminhão-tanque em São Paulo deixou os postos de gasolina da maior cidade do país a seco na última semana. Diante da escassez nos postos, alguns comerciantes aproveitaram para subir os preços. Virou caso de polícia, com onze pessoas detidas. O Procon autuou dezoito postos.
A possibilidade de o movimento ganhar dimensão nacional cresceu nos últimos dias. Levantamento mostra que caminhoneiros de pelo menos cinco estados – e não apenas motoristas de caminhões-tanque – estão dispostos a paralisar suas atividades. Se isso acontecer, o cenário que se desenhará inevitavelmente será de caos: o escoamento da produção nacional é calcado sobretudo no transporte rodoviário.
O gargalo não é de hoje. Para equacioná-lo, apontam especialistas, seria preciso triplicar os investimentos atuais. Mesmo assim, só em quinze ou vinte anos o país alcançaria os patamares de competitividade de seus concorrentes emergentes diretos, notadamente China, Rússia e Índia.
Não à toa, a infraestrutura brasileira é uma das protagonistas do que o mercado convencionou chamar de “risco Brasil” – termo que enumera o conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem os investimentos no país.
Na comparação direta com mercados como Rússia, China e Índia, o Brasil tem a pior malha – seja em extensão, seja em qualidade – em quatro dos principais canais logísticos estabelecidos: rodoviário, ferroviário, hidroviário e de dutos (veja tabela).
“Perdemos de todas as formas possíveis”, diz João Guilherme de Araújo, diretor de desenvolvimento de negócios do Instituto Ilos de Logística e Supply Chain. “Somos absolutamente dependentes do transporte rodoviário e, mesmo assim, nossa infraestrutura rodoviária é inferior. Para lançar um padrão de alto nível no transporte rodoviário, seria preciso algo como 8,6 trilhões de reais.”
Segundo o consultor, o Brasil investe ao ano 0,6% do PIB em infraestrutura logística. A proporção é a maior desde o final da década de 1970 e início dos anos 80, quando se verificou gastos na ordem de 1,86% do PIB. Para recuperar o tempo perdido, contudo, o especialista alerta para a necessidade de, pelo menos, retomar a antiga disposição. “Pelo menos três vezes mais do que hoje em dia”, diz.
De tudo o que é transportado no Brasil, 62% segue dentro de caminhões. O segundo canal de distribuição é o ferroviário, com 30% de participação. O trem, aliás, é apontado como a alternativa mais adequada tanto na relação custo e benefício, quanto à geografia e ao produto transportado. “É mais barato e mais adequado ao transporte de grãos. O problema é que nosso sistema ferroviário é ultrapassado e mal conservado”, destaca Araújo.
Dados da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer) mostram que nos últimos nove anos o investimento em ampliação e modernização das ferrovias, além da construção de novas instalações fabris e em tecnologia, somou R$ 1,1 bilhão. Essa parcela do mercado prevê a aplicação de mais R$ 250 milhões até o final de 2013.
“O governo tem priorizado a malha ferroviária. Estão previstos mais de mil quilômetros de lançamento para os próximos anos. Mesmo assim, a configuração do que está em operação é muito aquém do satisfatório. As estradas têm troncos abandonados, linhas sem manutenção, desvios inúteis”, destaca um graduado analista de um banco internacional, que não quis se identificar.
O problema é que o governo não tem e nem terá tão cedo condições de ampliar exponencialmente os investimentos públicos em infraestrutura logística. Com orçamento engessado e ênfase nos gastos com pessoal e custeio, não há margem para uma alta expressiva na taxa de investimentos. Sinal de que nem tão cedo sairemos do fim da fila.
Veja a situação do Brasil e de seus concorrentes:
Logística brasileira perde de longe para concorrentes, na comparação com Rússia, China e Índia, o Brasil tem a pior malha – seja em extensão, seja em qualidade – em quatro canais logísticos: rodoviário, ferroviário, hidroviário e de dutos.
Extensão
(km quadrados)
Rodovias
(km)
Ferrovias
(km)
Hidrovias
(km)
Dutos
(km)
Rússia17 milhões1 milhão87 mil100 mil247 mil
China9,3 milhões1,6 milhão77 mil110 mil58 mil
Brasil8,5 milhões212 mil29 mil14 mil19 mil
Índia3 milhões1,5 milhão63 mil15 mil23 mil
Fonte: Veja

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