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quinta-feira, 3 de maio de 2012

O tempo profissionalizou o motorista de caminhão


Um reluzente FNM D 11.000 trucado sobe a Serra das Araras com 22.000 kg de carga. Mauro, o motorista, sabe escrever seu nome, ler quase todas as placas da estrada e fazer as contas mais simples. Mas é bastante forte e quase não sente dificuldade para manobrar o veículo, que não possui direção hidráulica.
O calor dentro da cabine é insuportável e, para aliviar, Mauro segue sua viagem com a porta aberta e quase todo o corpo do lado de fora. A velocidade mal chega a 10 km/h. De bermuda, sem camisa, descalço e com uma barba de mais de sete dias, Mauro transpira em profusão.
Desde pequeno acompanhou seu pai nas viagens e se tornou motorista sem, ao menos, cogitar seguir outra profissão. Como empregado, tem dificuldades em manter a sua família em função do baixo salário.
Como o preço do Diesel é irrisório, Mauro nunca se preocupou em saber qual o consumo do veículo que dirige.
Fevereiro de 2.012
Um Scania R440 com menos de 5.000 quilômetros sobe a Serra das Araras atrelado a uma carreta de 3 eixos, a carga é de 25.500 kg, ligeiramente inferior à capacidade do veículo. Roberto, o motorista, concluiu o ensino médio, fez uma série de cursos e participou de vários treinamentos.
Com as janelas fechadas e longe do barulho, Roberto mantém a temperatura interna da cabine em agradáveis 22º C e seu uniforme está impecável.
Graças ao moderno câmbio automatizado, a velocidade segue constante em 40 km/h, o computador de bordo indica que o consumo médio é de 2,65 quilômetros por litro desde o último abastecimento e o instantâneo é de 1,9 quilômetros por litro.
Roberto é o único motorista em sua família e decidiu seguir a profissão depois de ter entrado em uma empresa de transportes como ajudante e ter sido encorajado pelo seu antigo chefe.
Apesar da saudade, Roberto consegue manter sua família que conta, inclusive, com a proteção de um convênio médico que a empresa oferece, além da cesta básica.
Roberto foi premiado nos últimos três meses por ter conseguido obter o consumo médio proposto pela empresa.
A evolução do tempo
Os 50 anos que separam Mauro e Roberto mudaram profundamente o mundo, e, consequentemente, a profissão de motorista de caminhão. Veículos, antes inimagináveis para os padrões brasileiros, estão à disposição dos transportadores que, por sua vez, exigem motoristas treinados e preparados para obter o máximo desempenho destes veículos.
Os salários oferecidos a estes profissionais nunca foram tão altos, e continuam subindo, não só em função da falta de mão de obra, mas também pelas atuais exigências.
Espera-se que o motorista seja um “Gerente de Unidade Móvel”, conheça informática, direção econômica e defensiva, entenda as necessidades da empresa e dos clientes, e ainda consiga fazer com que o negócio seja economicamente viável.
Ele é a própria empresa de transporte perante o cliente e também à opinião pública. Portanto, a figura barbuda, de braços fortes e quase analfabeta está, felizmente, aposentada. O conhecimento técnico substituiu a força bruta.

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